« Refúgio, Atelier »

  • 365 impressões fotográficas manipuladas sobre parede pintada
  • exposição "- já reparaste como o ponto de interrogação parece uma orelha, e como a interrogação se faz escuta?"
  • curadora: Maria do Mar Fazenda
  • Atelier-Museu Júlio Pomar, Lisboa, 2016

Aqui partimos do atelier, que eu não tenho no sentido clássico do termo. O único local onde talvez eu faça um trabalho regular e com uma certa continuidade é a internet e, sobretudo, o facebook. Fora disso, os meus projetos são temporários e site specific, a léguas de distância do objeto artístico produzido num atelier.

No atelier amontoam-se retalhos de ideias, de pensamentos que ainda não ganharam corpo definitivo. Assim sendo, no meu caso, e acompanhando a atualidade política, vou colecionando imagens no FB. Algumas estiveram na génese de alguns trabalhos que foram expostos. As liteiras coloniais, os livros encontrados, os tanques da guerra civil espanhola, os garrafões-boia do imigrante marroquino, etc.

Tenho reparado que as obras de arte que me agradam são aquelas aonde se pode ver o tempo em que foram feitas. E 2015 foi um ano terrível, em Paris...

O título "refúgio, atelier" remete para uma ideia de defesa pessoal (os tanques, as barricadas, os capacetes, as máscaras) e/ou para o feito-à-mão ou precário, de artesanato da urgência. Em todas fica a dúvida: estas imagens foram manipuladas ou não? (...) Aos uniformes prisionais dos Estados Unidos e às túnicas das execuções do Daesh (isis) juntaram-se depois os coletes salva-vidas dos refugiados que continuam a chegar às ilhas gregas. Sempre laranja. Laranja é a cor do tempo.